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Duende Azul
Duende Azul

O Inaudito Povo

 

Há muitos anos atrás, numa pequena aldeia, no norte de Portugal, dona Maria, trabalhava. Estava no seu quintal a regar as couves, os feijões, as beterrabas, as lindas e floridas árvores de fruto que eram polinizadas pelas belas abelhas, regava também todas as flores de cores chamativas que eram a paragem de magníficas borboletas elegantes e com asas angelicais.

A vida de dona Maria não passava de uma rotina maçadora, todos os dias se levantava cedo, fazias as suas refeições e as do seu marido, o senhor Domingos e tratava dos seus animais e da sua quinta.

Todos os dias ao jantar dona Maria e senhor Domingos conversavam sobre o mesmo:

- Maria estás a ficar velha e esta vida de sacrifício a trabalhar já não é para ti.- Aconselhava de uma forma meiga o senho Domingos.

- Sei bem disso, mas então e tu? Achas que ainda estás em forma para trabalhar na oficina de móveis? – Ripostava a dona Maria, enquanto desviava os olhos para o prato de comida.

O casal estava farto da rotina e ambos concordavam que chegara o fim de tantos anos a trabalhar.

Não eram apenas eles que falavam sobre isso. Dona Maria caminhava todos os dias de manhã bem cedo, sobre as verdes e airosas colinas as quais se deixavam atravessar pelos primeiros raios de sol, para ir buscar á fonte água fresca e pelo caminho ouvia dona Rosa, e o senhor José todos com cerca de sessenta anos, tal como ela a falar sobre as suas vidas sufocantes:

- Não aguento mais esta vida, anos a fio a trabalhar e ainda assim ganhando miseráveis salários. O governo não nos deixa ter o merecido descanso. – Replicava dona Rosa.

- Estou a ficar saturado de tanto trabalho.- Concordava o senhor José.

Dona Maria que ouvira toda a conversa disse:

- Devíamos organizar um protesto. Chamaríamos toda a gente, pois quantos mais melhor, assim o povo faz-se ouvir e teríamos uma vida mais descansada. Porque afinal a união faz a força.

Nos dias seguintes, por toda a aldeia se falava sobre o protesto, as pessoas estavam revoltadas e sentiam-se na obrigação de se defenderem. Dia após dia, aquela calma aldeia se tornava num local conflituoso, cheio de raiva, as pessoas não conseguiam sorrir como antes, nem ver a vida feliz como antigamente.

Chegou o tão esperado dia, era verão e estava muito calor, as pessoas mantinham-se firmes para não demonstrar fraqueza, cada vez chegava mais gente, tal como as formigas quando encontram algo doce.

Ouviam-se gritos, através de megafones, frases insultuosas, e a raiva a explodir de todas as pessoas furiosas. Dona Maria, porém apesar de toda a raiva que tinha, estava insegura, pois sabia que não era só ela, nem mesmo o seu marido, ou até mesmo os seus vizinhos que estavam furiosos com o governo, era todo o país, mas na maioria das vezes nada se conseguia e acabava tudo como inicialmente.

De facto na maioria das vezes, pouco ou nada se conseguia, mas desta vez foi diferente, o povo fez-se ouvir e conseguiu o que pretendia. Agora tudo é diferente a vida é mais calma e sossegada, o sol brilha, os pássaros cantam, o riacho deixa a água correr nas suas formosas margens, a brisa fresca e perfumada das flores é levada por toda aquela aldeia, o pôr-do-sol é calmante e o anoitecer é subtil, porque o manto negro da noite cobre o lindo céu azul muito lentamente.

Esta aldeia fica agora conhecida a nível nacional, devido às destemidas, corajosas e trabalhadoras pessoas que nela habitam, pois nunca antes se tinha ouvido falar de tal povo tão destemido.

 

 Autor: Duende Azul