O inaudito povo
Há muitos anos atrás existia uma pequena aldeia numa floresta tropical da América do Sul.
O povo que lá habitava tinha uma particularidade que o distinguia os outros povos. Aquilo que sonhavam realizava-se nos dias seguintes.
Aquilo que parecia ser muito bom, pois evitavam-se desgraças e complicações, passou a ser um problema para aquele povo.
Então porquê? Perguntar-se-ão vocês.
Aquele povo cansou-se de saber tudo de antemão. A sua vida tornou-se monótona, sem improvisos e surpresas. Sabiam que presentes iriam receber, o que iria ser dito e feito.
Perderam a capacidade de improviso e de resolver problemas porque antes das coisas más acontecerem, evitavam que acontecessem.
O chefe da tribo sentia-se impotente, sem saber como alegrar e dar ânimo aos habitantes da sua aldeia.
Até que certo dia chegou à povoação um famoso feiticeiro, conhecido pelos seus remédios milagrosos.
O chefe da tribo logo o procurou e expôs o seu problema.
- Fácil! – Disse o feiticeiro – Basta que deixem de sonhar.
- Mas para deixarem de sonhar, teriam que deixar de dormir. – disse o chefe da tribo. – E isso já alguns tentaram fazer, mas devido à falta de repouso, pareciam zombies, incapazes de fazer o que quer que fosse.
O feiticeiro prometeu então que iria tentar resolver o problema da melhor forma.
Assim, passados cinco dias, apareceu junto do chefe da tribo com um pequeno pote de barro nas mãos e disse:
- Quem não quiser conhecer o futuro, terá que fazer um chá com estas ervas e assim dormirá sem sonhar.
Os aldeões, entusiasmados com a erva milagrosa, aderiram à ideia.
Assim, a partir dessa altura os habitantes que tomavam o chá deixaram de sonhar.
Havia aqueles que o tomavam bem fraquinho e sonhavam, mas esses sonhos eram tão confusos e bizarros que quando acordavam não se lembravam deles.
Autor: A Guerra de Tróia