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A Libelinha
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A Inaudita Guerra criada por um único homem

 

 A história que vos venho aqui contar aconteceu de verdade, e não há muito tempo. Apesar de parecer uma história irreal devido à tamanha crueldade para com um ser vivo. As Guerras Mundiais, a Guerra Fria, e qualquer outra guerra que possam ter ouvido falar não passam de uma mera “lutazinha” comparada com esta que vos venho aqui falar. Uma guerra que por ser tão desumana, tão bruta e desigual tentou ser escondida da História, para tentar esconder este lado cruel e obscuro do Homem.

 Tudo começou com alguém um simples sujeito, James era o seu nome, era filho de camponeses muito pobres que se esforçavam ao máximo para tentar dar ao filho uma vida um pouco melhor, para lhe proporcionar algum conforto, de acordo com as suas possibilidades. Mas tudo isso nunca foi suficiente ele. Ele era um rapaz egoísta, egocêntrico, desiludido com tudo e com todos, não tinha amigos, vivia num profundo sofrimento e depressão que não deixava ninguém se aproximar para o tentar ajudar, vivia simplesmente por viver, parecia que nada lhe dava alegria ou ânimo. Havia apenas uma coisa que o deixava com outro humo: violência. Por algum motivo desconhecido, até mesmo por ele, sempre tivera uma paixão por lutas, sangue, mortos, sofrimento, é difícil perceber como é que alguém tão jovem poderia ter um interesse por algo assim tão trágico e tétrico.

 James adorava assistir a lutas de rua, era como algo deslumbrante, este rapaz tinha até testemunhado inúmeros homicídios que tinham ocorrido perto da zona.

 Os vizinhos desta família, já se tinham apercebido desde muito cedo que aquela criança não era normal, muitos diziam que fora amaldiçoado, outros, que ele carregava o espírito do diabo, e ainda alguns diziam que os seus pais tinham ofendido Deus antes ainda de ele nascer, e por isso como punição, ELE recaiu a sua fúria e desagrado no recém-nascido.

 Os seus pais desesperados, sem saberem o que fazer decidiram abandar James. O garoto não teve reação, tinha uma expressão tão neutra, que nem mesmo os seus progenitores conseguiram perceber se estava feliz por se ver livre deles ou se por outro lado estava com raiva. Mesmo com esta dúvida viraram costas e deixaram-no. O rapaz, já mancebo, não perdeu tempo a chorar ou a demostrar algum tipo de emoção, vagueou ao longo de algumas horas debaixo de um sol infernal até chegar à cidade vizinha, que ficava a cerca de três quilómetros da sua aldeia, James sabia que andavam a recolher homens para formar um exército, visto que estavam a entrar em guerra com França.

 Como naquela altura o serviço militar era obrigatório, eram muitos os homens, futuros soldados, e suas famílias presentes, o mesmo se podia dizer das intermináveis filas que se tinham formado, mas isso não diminuiu a determinação de James, que mesmo apesar de alguns comentários desnecessários dirigidos à sua pessoa, permaneceu firme na fila, até finalmente ter chegado a sua vez. Foi recebido por um coronel, onde estava escrito Coronel Anderson, na lapela do casaco que trazia vestido, olhando-o de alto a baixo, encorrilhou o nariz e disse:

- Que fazes aqui meu rapaz, isto não é um lugar para crianças!

- Meu coronel, O meu nome é James e estou aqui para me registar no exército!- afirmou falando como um verdadeiro soldado.

-Vejo que tens determinação e coragem, mas diz-me que idade tens?

-Vinte anos, meu coronel!

-Pois claro, e eu sou a tua mãe- disse com um ar de gozo- Não deves ter mais do que…. catorze ou quinze. Ainda és muito novo, mas não te preocupes que um dia terás idade suficiente e aí poderás juntar-te a nós e defender a tua nação, agora volta para casa e para a tua família.

O rapaz, cabisbaixo, responde:

-Meu coronel, não tenho casa para onde ir, nem família a quem pedir.

O coronel mudando também a sua expressão e tão de voz mencionou:

-Bem, pondo as coisas nesse ponto de vista… está bem! Não te posso colocar no exército mas podes ajudar a tratar dos cavalos, ou na cozinha ou com os feridos, depois logo se vê. Agora assina o teu nome e amanhã bem cedo quero-te aqui com esta farda vestida.- afirmou o coronel, entregando-lhe o fato que deveria usar.

 No dia seguinte James foi o primeiro a parecer, e de imediato lhe foi anunciado que a sua função seria de anotar o número de mortos e feridos em cada batalha.

 A alegria instalou-se na sua cara, iria de novo poder estar presente num “universo” de dor e sangue, a sua única fonte de satisfação.

E assim foi James, fez isto em todas as dezassete batalhas que que seguiram, até que na décima oitava o general Gerald Hilfiger, (chefe da hierarquia militar) tinha sofrido um grave          

acidente de ofício quando tentava intercetar um cavalo que seguia descontrolado na sua direção, acabando por o ter derrubado e esmagado algumas costelas. James depois de ter terminado a sua contagem, decidiu ir ver como o general se encontrava. Entrou nos seus aposentos e sentou-se num pequeno banco ao lado da cama. Esteve a admirar o seu superior durante bastante tempo, e depois levantou-se e…

-Como te chamas?

Surgiram umas palavras do fundo da tenda com uma voz de moribundo, James tornou-se e voltou a contemplar Gerald, que fazia um enorme esforço para erguer a sua cabeça da almofada.

-Reparei que me estavas a mirar á já muito tempo, mas sem falar.

-Pensei que estivesse a dormir, meu general.

-Não me trates dessa forma tão formal, ambos sabemos que já não vou durar para ver outro nascer do sol. E respondendo à tua pergunta, não, não estava a dormir, apenas esperava que me dissesses algo, e foi uma longa espera em vão. Agora responde tu à minha pergunta, qual é o teu nome?

-James, meu coronel!

 Os dois tiveram uma longa conversa que se arrastou por duas longas horas, no final James, saiu. No dia seguinte, quando acordou deparou-se com um grande tumulto, todos estavam stressados e enervados, James agarra o braço de um soldado, e quase como  exigindo que lhe contasse o que se passava.

-O general Gerald Hilfiger morreu! O general Gerald Hilfiger morreu!

 James soltou o braço do rapaz, e sentiu algo que nunca sentira anteriormente, nem mesmo quando foi abandonado pelos seus pais, um sentimento de desilusão, uma tristeza profunda e inexplicável, quando finalmente fizera um amigo ele tivera um final tão dramático e trágico.

 O que James não sabia, mas que lhe acabou por ser transmitido, foi que minutos antes de morrer, Gerald, com um último esforço escreveu numa folha que deixara encima do banco onde previamente ele se tinha sentado, onde dizia o seguinte:

“Escrevo com as forças que ainda me restam, pois sei que o meu fim está para breve, deixo o meu cargo ao meu amigo James, para que derrote as forças inimigas e eleve esta nação”  

 A notícia foi espalhada com algum desalento e descontentamento, pois nunca se vira alguém passar de um mero ajudante militar para tamanho posto, de general, mas também ninguém se revoltou, ou manifestou a sua contrastação.

 James, ao contrário do que seria de esperar, não mostrava qualquer emoção, fosse ela de alegria ou tristeza, a verdade é que mais uma vez, ninguém conseguia compreender qual era a sua feição. De qualquer forma também não havia muito tempo para parar e descobrir, porque James estava na verdade a preparar um ataque surpresa às tropas adversárias, pois sentia-se injustiçado e com vontade de vingança. O seu desejo por sangue, dor, mortos, sofrimento e sangue estava de volta e ele sabia exatamente o que fazer para o ver saciado.

  Fizeram um ataque surpresa às tropas francesas, e arrasaram com elas. Firam apenas algumas dezenas de prisioneiros que imploraram pelas suas vidas, mal sabiam eles que a morte pela espada seria considerada uma morte agradável tendo em conta aquilo que lhes foi feito, desde às torturas mais bárbaras como serem amarrados por uma corda e começaram a ferir cortes desde os pés até atingirem o coração ou então aos castigos mais tradicionais como a forca. Qualquer punição que implica sangue ou dor era usada e assistida pelo próprio James que naquela altura já não era mais um rapaz, mas sim um adulto.

 A verdade, é que o terror não acabou por ali, as tropas comandadas por James ou general James, como exigia que fosse tratado marcharam para França e mataram, torturaram, queimaram velhos, mulheres e crianças, que sem as tropas militares para os defenderem pouco ou nada podiam fazer contra tamanha crueldade.

 A sua “sede” estava quase saciada, para isso James e as suas tropas prosseguiram para a sua aldeia natal e aí foi um verdadeiro holocausto, tudo e todos exterminados, mas aqueles que James fez questão de que morressem pelas suas mãos, foram aqueles a que um dia ele chamou de pais.

Sem motivos pelos quais permanecer naquela maldita aldeia coberta de mortos regressaram, e James convocou as suas tropas a reunirem-se no centro da cidade, onde disse estas últimas palavras:

 “Tudo aquilo que fiz, fi-lo movido pela raiva, fúria e desejo de vingança daquilo que outrora me fizeram e para concretizar o desejo de um amigo que não está hoje presentes aqui connosco em corpo mas com certeza está em espírito, não sintam remorsos por aquilo que fizeram, pois não mataram civis mas sim livraram o mundo de criaturas desnecessárias!”

Acabando de discursar, agarrou na espada que trazia à cintura e trespassou o seu coração, morrendo de imediato.

 

Autor: A Libelinha